Sunday, November 23, 2008

Modéstia à parte, há vagas



Impacto de crise financeira? Cenário de arrefecimento? Redução da previsão de crescimento?
Não se desepere, o governo chinês anuncia o plano de investimento de 13 bilhões de dólares no projeto para a construção de habitações de preços acessíveis.
Serão oito milhões e meio de metros quadrados de construções com intuito de beneficiar em torno de 7,4 milhões de pessoas detentoras de modesta renda.

A estratégia é bem batuta, por um lado ajuda a manter a estabilidade social ao preservar postos na construção civil, a massa formada por aproximadamente 150 milhões de migrantes rurais.
Por outro, estimula o mercado imobiliário e os setores correlatos.
Além é claro de contemplar o público alvo. Que já andava aos lamúrios diante do aumento progressivo do preço do metro quadrado chinês, calculado em aproximadamente dois mil e trezentos dólares.

Com ou sem crise global, desde o início do ano, os preços do setor já registravam queda de 19.67%. Beijing em especial. Graças ao embate entre as projeções exorbitantes de mais-valia olímpica e a realidade. Que diante do endurecimento das leis para concessão de vistos aos estrangeiros - os que já residiam na capital ou os que tentavam ingressar, viram naufragar os planos de enriquecimento instantâneo.

Mais tristonhos ainda ficaram ao constatar que a debandada dos estrangeiros deixou um vazio, a dos imóveis vazios. Concatenando no fenômeno comportamental de inércia dos proprietários frente ao vácuo criado no mercado de muita oferta e queda da procura.
Os proprietários e locadores em geral tem preferido atualmente obsevar os rumos do mercado, evitando supostas precipitações e deixando o imóvel desocupado.

Mas o ritmo não pode párar, no máximo desacelerar.
Da metade dos guindastes do mundo presentes na China, restaram apenas um terço.
Será que estaremos diante da conversão do país, que depois de tantas metamorfoses megas dá espaço a fase modesta?

Tratemons de acompanhar os próximos capítulos, seja como for, o país dá mostras da filosofia inclusiva de coração de mãe para com a população chinesa, e modéstia à parte, ou na versão mais recente anunciada pelo governo, modesta a parte, há vagas.

Wonderland

É tão lindo, não precisa mudar
É tão lindo, deixa assim como está,
E eu adoro , é claro" ...
( Balão Mágico)

***




















Yeondoo Jung, artista coreano deu vida e cor a Wonderland, criando cenários a partir de desenhos infantis. (aqui)

Wonderland, é mesmo wonderful sem ser infame.
Encanta pela magia praticável das desproporções adoráveis.

A Wonderland de Yeondoo é na Coréia. A minha atualmente é aqui.
A terra do nunca, que nunca se repete sendo sempre irresoluta no contexto do diálogo entre espontaniedade, arquitetura e lógica chinesa.
É verdade que na ânsia de impressionar o ocidente e talvez a eles próprios, o que se observa com mais facilidade são as super manifestações arquitetônicas, destas que se impõem aos formigueiros humanos, por sua dimensão e velocidade.
Mas a Wonderland que me cativa, instaura-se na instância do que vem abaixo e do que se cria. Das mudanças que dão lugar que só mesmo na China poderiam.

Acoplam 5 mil anos de história e artefatos ao costume de se acostumar a guardar diante dos novos espaços.


Na porta:lê-se reciclagem






Thursday, November 20, 2008

Mais Fortalezas-Voadoras!

"Um navio de Hong Kong que levava trigo para o Irã foi capturado na terça-feira, no golfo de Áden, por piratas somalis.
Essa é a mais recente ação do tipo a ocorrer nas perigosas águas do Chifre da África.
O Delight, com 25 tripulantes a bordo, caiu nas mãos de piratas perto da costa do Iêmen e navega agora rumo à Somália.
A ação ocorreu depois de um grande navio-tanque com uma carga de petróleo avaliada em 100 milhões de dólares ter sido capturado por piratas somalis no oceano Índico".
( O Estado de São Paulo - 18 nov.08)
***

"A China tornou-se o maior detentor estrangeiro de títulos do tesouro dos Estados Unidos, com uma carteira de quase 600 bilhões de dólares".
(China Daily - 19 nov.08)
***

A China trabalha na montagem de seu primeiro porta-aviões de guerra, que poderia ser utilizado no Mar da China Meridional para proteger as rotas de seus petroleiros e seus territórios na região.
O porta-aviões e seus navios de apoio devem ser construídos em Xangai e em outros dois importantes estaleiros do norte do país.
(South China Morning Post-19 nov.08)
***


Era a primeira vez que escutava histórias de piratas, tesouros e porta-aviões onde os três elementos figuravam juntos em pleno século XXI e todos deflagrados no decorrer da mesma semana!

Sunday, November 2, 2008

Toquem! Toquem para sua Majestade o Imperador!

Minha avó ficaria orgulhosa ao saber que fui à igreja no domingo. Talvez ainda mais, se contasse que fui à Beitang (北堂), catedral que abriga o Cardinal de Beijing oficialmente abençoada pela Igreja Católica Patriótica da China!

Fui por conta de um destes convites adoráveis que volta e meia me surpreendem por aqui. Um "concerto barroco no palácio do Imperador chinês", parte de um Festival Cultural Belga.
Ah, estes belgas!

Caminhar em direção à Beitang, rodeada de árvores e muito espaço, me fez lembrar de todas as igrejinhas das cidades do interior do Brasil. Clássicas, dispostas sempre na pracinha central, rodeada de bancos , o coreto, em alguns casos a sorveteria. E o movimento migratório noturno dos jovens ao redor deste cenário num ritual pré acasalamento, sempre monitorado pelos de mais idade.

A Beitang não cheirava igreja, e mesmo sendo gótica não oprimia. Também não era claustrofóbica. Incluia e se apresentava, seja pelas faixas com os caracteres chineses lá na frente no altar, ou pelas capas de babado para lá de rococó que revestiam os ventiladores.

O concerto foi mesmo um espetáculo. Ainda mais belo, por conta da participação especial e espontânea de um garotinho chinês fofo, no auge dos seus ( suponho) 6 anos, que dançava todo gracioso e feliz no corredor das fileiras paralelas ao meu banco.
Sorria tão bonito que sorri e sorríamos também.

A premissa do concerto me vez embalar para o século XVIII.
Data que estes jesuítas marotos, carregavam bem mais do que a influência colonizadora cristã, detinham conhecimento nas mais diversas ciências e me pareciam bem mais interessantes.
Eram músicos, cientistas sociais, linguístas, historiadores, antropólogos, diplomatas,engenheiros, navegadores,..., e jesuítas.
Tenho verdadeiro fascínio da imponência de outrora, das nações pioneiras ultramar, das rotas e das tantas histórias que deviam se acumular durante estas longícuas viagens.

Sentei ali logo em frente ao cravo, ao violoncelo e a flauta de pele fina e alva, olhar suave e narizes de Tin Tin, num repertório que mesmo barroco me pareceu tão belga (mesmo sem eu nunca ter estado lá).
E logo a dúvida se o Imperador se divertia com estes concertos.
Tomada por suposições bastante hereges, vislumbrei o Imperador Kangxi ( que era o então no poder na época destes jesuítas) com seus trajes de seda amarelo, bigodinho escasso e comprido, comfortavelmente instalado em seus aposentos disfrutando do que de melhor poderia estar ao seu alcance na época. Músicos internacionais, concumbinas dançantes, chá , petiscos e ópio. Será que os jesuítas concediam o direito de tamanha esbórnia?

Seja como for, ou como era, estes jesuítas todos foram donos de uma vida fantástica.
E o fato de terem sido selecionados para este concerto está relacionado ao fato da recente descoberta de 12 sonatas inéditas na Biblioteca Nacional de Pequim.

O último ato foi mesmo o crème de la crème pela presença do coral.
A comunhão dos crentes e descrentes regidos pela sincronização das respirações que ecoam há séculos sonatas e cânticos.
E mesmo hoje diante dos muitos resquícios de Jean Joseph Marie Amiot, o jesuíta e tradutor oficial de línguas ocidentais do Imperador que tentava explicar por carta nos idos de 1750 à corte britânica sobre o fato de que "este mundo é o reverso do nosso", eu continuaria pedindo bis aos Allegros*.



*O termo Allegro designa um andamento escrito em tempo rápido alegre ou animado. No caso do Allegro Moderato, corresponde a um allegro em que a execução do referido andamento tem um tempo mais lento do que o habitual.

**Serviço de informações: as missas são celebradas em chinês por um paróco simpatisíssimo na Igreja de Beitang, localizada na rua 33 Xishiku Dajie Xi'anmen 西安门西什库大街33号 todos os domingos as 6:00, 7:00, 8:00 e 18:00 horas. Horário em dias de semana 6:00, 6:30 e 7:00.