Saturday, June 30, 2007

Um país dois sistemas

"Os valores são cada vez mais relativos, móveis, provisórios." A plasticidade humana, a flexibilidade, as identidades múltiplas que cada um de nós pode assumir, os sentidos de pertença quantas vezes contraditórios, vão originando um mundo descaracterizado. "
( Salvador Pániker )

O exercício de me esquivar, à fuga das definições sobre o que é a China, e todo o complexo universo paralelo sobre este país de dos sistemas finalmente chega ao fim.
Decido enfrentar o desafio, e definir.
Classificando e rotulando tudo a partir do meu compêndio, e usufruidno meu melhor lado tirânico.


Me aproprio de uma foto, afinal uma imagem vale mais do que mil palavras. Misturo tudo, agito bem e voila!

Respeitável público a China é assim, assim mesmo, igualzinha a este híbrido de zebra e cavalo.
Admirada por uns, menosprezada por outros, podendo ser feia ou bonita, mas sem dúvida exótica. Gigante pela própria natureza, és forte impávido colosso. E sumariamente por reunir tais características, há sempre certa polêmica.


Continuo chovendo no molhado, e este ao meu ver trata-se de uma característica chinesa.
A do falar sem muito dizer, a do ser sem propriamente estar ( ou estar convicto de) , defender sem muito acreditar, interagir sem se comprometer. E para todos esses casos tudo é 差不多 ( cha bu duo ) , literalmente: parecido, aproximado, mais ou menos.
E esta palavra multi-uso, faz milagres nos diálogos de todas as esferas, das mais formais as mais singelas.

Uma das minhas preferidas ao lado de outras não menos em cima do muro como, 随便 ( sui bian - como você preferir, tanto faz), 无所谓 (wu sou wei- indiferente, tanto faz) 不清楚 ( bu qing chu- não estou bem certa).

E assim transitamos , eu e mais os bilhões de chineses entre os meandros do comportamento mais diplomático que todo bacharel em relações internacionais acredita dominar depois da doutrina a la Kissinger.

De tão diplomáticos, os chineses num piscar de olhos, realizam determinada metamorfose acoplando toda essa etiqueta em qualquer compartimento interno, e lançam-se mão do modelito esporte. São de uma praticidade!
E curiosos, ou simplesmente por considerar naturalmente normal dão início a uma série de perguntas inusitadas e por vezes super invasivas ( ao menos para nós ocidentais) capaz de desconcertar os mais desavisados. ( Comentam mesmo quem está ou não acima do peso, sobre sua pele, perguntam mesmo seu salário, seu aluguel, suas despesas em geral, e controlam seus horários e seus hábitos como qualquer Candinha da mais pacata cidade interiorana).

Numa lista infindável de comportamento "denorex" ( parece mas não é) , vão mesclando isso e aquilo, no micro no macro , e tudo ao mesmo tempo agora. E à mim, me resta a impressão da sutileza, da linha tênue entre o público e o privado. Do espaço onde termina minha liberdade e começa a dele, e cada qual munido com sua herança cultural.

E quão complexo se faz essa linha, sobretudo num país superpopuloso como o em questão, de cultura milenar que realizou seu processo de abertura ao mundo há pouco menos de 30 anos. Neste período transformou-se na quarta economia mundial, enfrentou crises dos tigres asiáticos, da SARS, reanexou sob seu controle político duas Regiões Administrativas Especiais (Macau e Hong Kong ) , alterou a ordem mundial geopolítica reintroduzindo a África ao cenário internacional, e não contente se prepara para ocupar o espaço de produtor de tecnologia de ponta deixando as cópias e as quinquilharias que invadiram o mundo, desvinculando-se do conceito pejorativo do made in China no passado.

Como definir se os "valores são cada vez mais relativos, móveis, provisórios, os sentidos de pertença quantas vezes contraditórios, vão originando um mundo descaracterizado" ....ou aqui caracterizado como " um país dois sistemas".

1 comment:

Anonymous said...

A menina resolveu ficar famosa agora??